Inclusão: a Odontologia também precisa pensar sobre isso
Atualizado: 28 de ago. de 2020
Imagem: Pixabay
Antes mesmo de começar, os Jogos Paralímpicos já estão tendo um grande mérito: o de chamar a atenção para os temas que envolvem as pessoas com necessidades especiais. Belas campanhas estão no ar, fazendo deste um momento-chave para pensarmos no quanto precisamos ainda evoluir e aprimorar no quesito inclusão.
Atividades desportivas têm, por si só, o poder de nos inspirar e motivar. Quando se trata de atletas paralímpicos, então, as lições de garra, força de vontade e superação são para lá de emocionantes!
Mas, enquanto aplaudimos, nos emocionamos e torcemos por esses indivíduos extraordinários, precisamos nos lembrar que, no dia a dia, muito ainda é preciso fazer para garantirmos um mundo mais acessível e menos restritivo a quem tem necessidades especiais. No campo da Odontologia – que é o nosso foco aqui -, também podemos fazer muito!
Um consultório muito bem equipado, mas acessível apenas por escadas, por exemplo, é algo simplesmente proibitivo para quem tem dificuldades de locomoção. Da mesma forma, salas sem área de manobra para cadeiras de rodas são também impeditivas para que o paciente cadeirante possa chegar e ser acomodado como se deve na cadeira do dentista. Já atendi em muitos locais assim, e sonhava em atender em espaços mais inclusivos.
Por isso, quando dei início ao projeto do Instituto Odontológico Serrano (IOS), eu e meu marido, que é engenheiro civil, partimos para a escolha das salas, tendo como critério número um a localização em prédios com excelente acessibilidade. Em Vitória, decidimos permanecer no local onde eu já atendia, realizando as adaptações que fossem necessárias. Na Serra, optamos por um novo espaço, onde poderíamos montar do zero a infra-estrutura que sonhávamos.
No IOS, cada detalhe da ambientação sempre leva em conta a questão da acessibilidade.
A arquiteta Aparecida Borges assinou os projetos das obras e toda a ambientação. Questões como largura de portas, adaptação de banheiros, acessos alternativos, amplas áreas de circulação e ausência de desníveis foram sempre levados em consideração. São detalhes que não passam despercebidos pelos pacientes. Muitos nos perguntam se podem fotografar algumas de nossas áreas internas, principalmente o banheiro adaptado, impressionados com o zelo e o bom gosto com que tudo foi feito.
Confesso que tudo isso me enche de orgulho. Mas a satisfação plena virá mesmo quando começarmos a ver crescer a conscientização das famílias e de toda a sociedade em relação à saúde bucal de pessoas com necessidades especiais.
Na minha experiência profissional, infelizmente, noto que, quanto mais grave o quadro e maiores as limitações e os níveis de comprometimento de alguns pacientes, mais a saúde bucal é relegada a um segundo plano – quando, na verdade, deveria ser o contrário.
O bom estado dos dentes e das gengivas influencia diretamente no conforto, no bem-estar e na saúde global de todas as pessoas. Para aquelas que têm qualquer dificuldade adicional, então, problemas bucais podem impactar seriamente o organismo, a qualidade de vida e, até mesmo, a longevidade.
Já é hora da sociedade entender e encarar a importância estratégica da saúde bucal para a o quadro geral de saúde de todos os indivíduos, entendendo que para o paciente com alguma doença crônica ou limitação, receber o devido acompanhamento odontológico é um direito essencial.
Para que isso aconteça, nós, dentistas, precisamos estar mais atentos e pensar nesses indivíduos quando vamos montar nossos consultórios e carteira de serviços. Por outro lado, cabe também às famílias, aos cuidadores e aos médicos que acompanham pacientes com limitações severas, estarem atentos a esses aspectos, ajudando a viabilizar o acesso ao acompanhamento odontológico.
Marlei Bonella,
periodontista e implantodontista.
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